sábado, 12 de junho de 2010

Ocupar, resistir e produzir na universidade




Tâmara Terso.
Diretora-geral do DCE da Ufba.


A universidade brasileira vive tempos de transformação. As vagas nas instituições federais de ensino superior (Ifes) dobraram nos últimos oito anos. Isto combinado com uma nova concepção de investimento em educação no País, que garantiu a ampliação dos recursos via Fundeb, o piso nacional dos professores, mais de 600 mil bolsas do ProUni, mais de 500 mil matrículas em novas escolas técnicas, R$ 200 milhões para o Plano Nacional de Assistência Estudantil, um milhão de bolsas do ProJovem, dentre outras conquistas.

Na Ufba, não foi diferente. Dobramos nosso orçamento e até 2012 dobraremos nossas vagas.

Incluímos mais filhos e filhas da classe trabalhadora no ensino superior.

Porém isto não é o bastante. O novo período que se abre traz três prioridades aos que lutam por uma universidade democrática e popular integrada com a comunidade: batalhar pela continuidade do processo de expansão, garantir condições de permanência aos estudantes oriundos da base da pirâmide social brasileira e construir currículos que dialoguem com a realidade deste novo público que entrou nas Ifes.

O jovem de Cajazeiras, de Plataforma, de Pirajá, de Valéria, ou qualquer outra comunidade com os mais baixos indicadores sociais do País, precisa se apropriar da universidade para que sejam agentes transformadores da realidade em que vivem. A universidade ainda não consegue construir conhecimento junto com os setores não hegemônicos da sociedade, por isso acaba apenas reproduzindo o modelo elitista.

A universidade pública tem um papel intimamente ligado à soberania nacional. Sendo o centro de produção do conhecimento, pode estudar e atuar no sentido de reduzir as desigualdades existentes no País. Esta tarefa vai muito mais além de simplesmente formar profissionais para o mercado de trabalho.

Se este fosse o propósito central, a universidade pública perderia seu sentido e se tornaria desnecessária. Afinal, seria muito mais eficiente investir os recursos em bolsas no sistema de ensino privado.

Outro pressuposto é que não existe conhecimento neutro. A universidade pode moldar os currículos e conteúdos para formar profissionais que servirão a diferentes sociedades, podendo ser reprodutora de um status quo ou crítica, criativa e transformadora.

O economista pode trabalhar com projetos de economia solidária. O médico deve servir ao sistema público de saúde. O biólogo pode ajudar no manejo sustentável das áreas verdes do seu bairro. O nutricionista pode priorizar a ocupação na área de soberania alimentar. O arquiteto e o engenheiro podem contribuir com projetos de moradia popular. O profissional de ciência da computação pode desenvolver novas tecnologias colaborativas com software livre. O comunicólogo pode ajudar na democratização da informação através de uma rádio comunitária.

Só caminharemos neste sentido se estreitarmos as relações entre universidade e movimentos sociais. Movimento popular, de sem-terra, sem-teto, sindical, feminista, LGBT, negro, etc. Todos estes que formulam e atuam para garantir um Brasil mais justo e igualitário têm importantes contribuições para a educação. A universidade tem que ser capaz de produzir síntese em conjunto com eles.

Desta forma, o debate acerca de qual universidade queremos está intrinsecamente relacionado ao projeto de sociedade que pretendemos construir. As atividades acadêmicas de uma universidade popular devem estar inseridas em diretrizes que nitidamente contribuam para a perspectiva transformadora.

Ocupamos a universidade quando conseguimos a ampliação de vagas e a adoção de cotas. Resistir é lutar por 15% para assistência estudantil, para superarmos nosso atual quadro de restaurante universitário mais caro do Brasil e residências em condições lastimáveis.

O próximo passo é produzir! Produzir conhecimento por (e para) quem sempre teve este espaço universitário negado. Nós estamos mostrando que podemos muito mais.

Até onde iremos chegar? Até onde a primavera nos deixar...




Fonte: www.atarde.com. br

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