sábado, 19 de janeiro de 2008

Texto BASE para Encontro Preparatório do Campo “Ousar Ser Diferente”

“Que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres? Ontem, para mutilar, amordaçar, silenciar. Hoje, para manipular, Moldar, escravizar aos estereótipos.”

(Rita Lee)

Gênero

Há muito tempo, os mais diversos tipos de movimentos de mulheres pelo mundo a fora percebeu a necessidade de garantir a existência de espaços de auto-organização, nos quais a presença de mulheres garante o debate e o planejamento pautado por experiências e caracterizações que todas compartilham por sofrer na pele essa opressão.

Esses espaços são fundamentais na construção de uma identidade coletiva que, ao fim, organiza uma luta comum, com conseqüências no plano da política, não no plano dos elementos particulares. Quem melhor dissertaria sobre a opressão sofrida pelas mulheres se não uma mulher? Obedecendo à mesma lógica, quem melhor definiria qual a política que contempla as demandas específicas das mulheres se não uma mulher? Por que, então, alguns companheiros questionam a existência de espaços de organização, nos quais as mulheres discutam sua própria situação e organizem sua própria luta para buscar a sociedade igualitária que defendemos?

Entendemos que o caminho em busca da emancipação da mulher passa pela conquista e garantia de seus direitos civis, políticos e sociais, no âmbito da família, da sociedade, na esfera pública e no plano cultural e ideológico, pelo combate aos preconceitos e descriminações a que são submetidas.

Quando falamos em poder, não nos restringimos ao exercício do poder na esfera da política, onde facilmente verificamos a predominância de homens e uma menor participação das mulheres. Relações de poder são cotidianas também, e orientam relações sociais as mais diversas, que colocam as mulheres em situação de subjugação.

O impacto da dominação sobre a vida das mulheres é acentuadamente perverso e o avanço de suas conquistas é lento. Modernamente, a predominância dos valores do capitalismo na conformação da vida social gera usurpação territorial, estrangulamento cultural e homogeneização da subjetividade especialmente para as mulheres integrantes dos povos indígenas, quilombolas, etc.

Ditadura da Masculinidade

Por muito tempo o homem da sociedade patriarcal era o dono do espaço, seja ele familiar, do trabalho, de todo o convívio social. Hoje em dia com as mudanças de comportamento cultural das mulheres, que por um lado avançam em conquistas trabalhistas, por em alguns casos ocupar os espaços antes pertencidos somente aos homens percebe-se, que eles também fazem parte de um grupo que sofre com a imposição do mercado e da própria mídia que explora e molda como deveria ser o “homem moderno”.

Quando falamos em ditadura da masculinidade o que nos vem à cabeça são as imposições vindas principalmente dos meios de comunicação social que a todo tempo brada como deve se comportar não só o homem moderno bem como a mulher e como ela deve se comportar, e o que ela não deve fazer com o seu próprio corpo. Para além do papel da mulher na sociedade, a do homem também é cruel. Se pararmos para analisar como os nossos filhos são criados discriminatoriamente desde que o mundo é mundo, ao exemplo disso temos as cores ditas masculinas (azul, verde, cinza, preto), brinquedos masculinos (carros, pistolas, espadinhas de grandes guerreiros, bolas, etc.), comportamento (homem que é homem não chora na frente de ninguém, não é carinhoso, é do tipo machão, tem que ser sempre viril, ect.) Para além da criação que a família brasileira em especial veio dando a essas crianças ao longo dos anos é preciso se atentar à perda de identidade que o campo masculino vem sofrendo.

As MULHERES e o Movimento Estudantil

Quando se fala da mulher e a sua participação no ME no sentido de lutar contra a opressão, que nós sofremos, percebemos por parte de alguns companheiros uma resistência em apoiar a luta feminina, entre o fato de não apoiar, podemos mostrar alguns exemplos um deles é no que diz respeito à própria participação das mesmas em cargos ditos de importância como coordenação geral/presidência. A participação dessa mulher nos espaços democráticos dentro das Universidades, como CA’s e DCE’s, executivas/federações de curso ainda é muito pequena.

No Movimento Estudantil, existem alguns companheiros que inibem a intervenção das companheiras, inclusive quando discutem as diversas questões que envolvem gênero, a exemplo disso, temos a situação de desqualificação da fala e das bandeiras de luta, tentativa cotidiana de descaracterização enquanto mero objeto sexual para os homens, “vitrines” de chapas e gestões de entidades estudantis, além da opressão física e étnica que sofrem por serem mulheres no espaço da Política Estudantil, quase sempre assumindo tarefas secundárias como a de Atar reuniões, arrumar as entidades, etc. Geralmente nunca sendo compreendida essa relação de opressão pelas quais as mulheres do Movimento Estudantil passam.

É preciso garantir espaços em que as companheiras sejam estimuladas a serem agentes da história, onde possam encontrar referências para a luta feminista, o que faz dos espaços de auto-organização, inclusive, momentos de formação política.

“Se quisermos promover uma sociedade mais justa e igualitária, precisamos focalizar as relações de desigualdade e de opressão que existe em nosso país nas dimensões fundamentais de Gênero, Raça e classe.” (Edna Roland)

Por tudo isso, nós mulheres e homens do Ousar Ser Diferente levantamos a bandeira da igualdade entre os sexos nos mais diversos espaços, principalmente no ambiente do ME, mas sempre respeitando as diferenças e particularidades das/os mesmas/os.

Lembrando também de levantar a bandeira de ser totalmente favorável à linguagem não sexista principalmente no ambiente do ME, onde é imposta uma linguagem opressora que não leva em consideração que a letra A é diferente da letra O (A≠O) ou então quando querem transformar o texto no masculino e feminino fazendo assim do símbolo do @ uma palavra unisex, mas se pararmos para analisar, a letra O engole a letra A, sem falar que o uso do @ é impróprio, e não quer dizer que seja um símbolo que possa representar os dois sexos, ou seja, é um uso equivocado, além do mais, como essas palavras serão pronunciadas? Sem falar que símbolos – a exemplo do @ - não constam no alfabeto da Língua Portuguesa do Brasil.

A forma não-marcada “homem” pode se referir a homens ou a seres humanos no geral. A forma marcada é restrita às mulheres. Assim, as mulheres são, efetivamente, escondidas atrás da terminologia “genérica” (masculina). E “homem” também não é uma terminologia realmente genérica. A neutralidade da categoria é duvidosa. Existe uma tendência a se pensar, realmente, nos homens, mesmo quando estamos falando no plural. Ao promover o uso do masculino e o desuso do feminino, claramente se apóia e se dá visibilidade e primazia para os homens.

Por isso Apoiamos:

A defesa de uma educação não sexista, que possa respeitar a pluralidade cultural e que combata a qualquer forma de descriminação;

Democratização dos espaços dentro dos DA’s, CA’s e DCE’s para discussões de Gênero;

Pela cota mínima de 30% de mulheres em todas as instâncias das Entidades Estudantis;

Coletivos de Mulheres nas Universidades, Faculdades, etc;

Pela descriminalização da Legalização do Aborto;

Creches para as/os filhas/os das mães em Congressos, Conferências, Encontros de estudantes, etc;

Criação de Núcleos de Pesquisa e Extensão sobre gênero nas IES;

Desburocratização das Licenças Maternidades

Ampliação das creches nas Instituições de Ensino Superior - IES

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