terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Fantástico é de fato “fantástico”!





Desde que comecei a estudar as mídias brasileiras e até mesmo antes, quando apenas assistia, tento me convencer do serviço que estas prestam aos telespectadores. Assistindo ao programa da Rede Globo: Fantástico, tenho a nítida constatação de que grande parte da nossa mídia presta um desserviço à informação social brasileira.
A última deste programa de entretenimento foi a “grande reportagem”, como seus apresentadores chamaram no dia 01/08/10, que falava sobre o tema: Aborto. Este tema, ainda tabu em nossa sociedade quase nunca é suscitado nas mídias tradicionais – a não ser quando alguma clínica de aborto é descoberta – e no caso desta reportagem não foi diferente. A cobertura começa se baseando em estatísticas de quantidades de abortos feitas no país (alarmantes), e em todo o seu percurso foca nas denúncias de clínicas clandestinas de aborto, num tom de criminalização do ato e das mulheres. Nenhuma estatística de mulheres que morrem, nenhuma provocação a legislação que pune as que abortam e aos que oferecem o aborto, nenhum perfil das mulheres que procuram a interrupção da gestação, assim como nenhuma reivindicação de direitos. Nada. Apenas o denuncismo por si mesmo.
Sobre o perfil das mulheres que abortam no Brasil é obvio, em suas maiorias negras e das classes populares. Outra constatação é que o aborto é um caso de saúde pública, logo, dever do estado, que deveria assegurar a saúde de milhares de mulheres que recorrem ao aborto inseguro e que em grande parte dos casos morre ou nas filas dos hospitais, por falta de atendimento, ou em casa sozinhas e culpadas por crimes que não cometeram. Pelo menos do ponto de vista da autonomia da vida e do corpo das mulheres.
Com esses dados em mãos à equação se torna simples, o aborto é um direito que deve ser garantido às mulheres pelo fato de milhares delas morrerem todos os dias. Porém não é isso que a TV brasileira, nem os setores conservadores da sociedade e do estado fomentam. Ao contrário estes mesmos setores utilizam cerca de 20 á 30 minutos para referendar o que nós do movimento de mulheres combatemos, o preconceito, a camuflagem das informações e a invisibilidade das nossas reivindicações.
Tivemos no último período o caso do PNDH III, que passou longe de aprovar a legalização do aborto e reconhecer a pratica como questão pública. Hoje temos um período propício para levantar ainda mais este debate. Estamos no período eleitoral e o que vamos fazer?
Iremos às ruas levantar nossas bandeiras por autonomia dos nossos corpos e das nossas vidas, assim como pretendemos responsabilizar aos que do nosso voto precisam para se eleger, por que ser a favor da VIDA é ser a favor das mulheres, pela descriminalização e legalização do aborto!
E para a mídia fica minha lástima, mas também a minha sede de combater os “Tubarões da Informação”, que monopolizam o setor da comunicação e reafirmam o machismo, o racismo, dentre outros preconceitos.
AS MULHERES NÃO SÃO BOBAS, ABAIXO A REDE GLOBO!

Tâmara Terso.
Militante da Frente Contra a Criminalização das Mulheres e Pela Legalização do Aborto - BA
Marcha Mundial das Mulheres
Coordenadora - Geral DCE UFBA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário